quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Da mama ao biberão

Desde o regresso a casa do David após o internamento no hospital que quero deixar aqui um post sobre aleitamento materno. O David teve uma desidratação provocada por falta de quantidade, ou qualidade, do leite materno; a sua alimentação exclusiva até aos 12 dias. Por alguma razão por esclarecer não era o suficiente.

Estava muito motivada para dar de mamar ao David e que o leite materno fosse a sua alimentação principal pelo maior período possível. Fizemos o curso de preparação para o parto (que inclui aulas sobre aleitamento materno) na maternidade onde o David veio a nascer e fiquei ainda mais orientada para isso.

Nos dois primeiros dias de vida o David mamou, tinha claramente o instinto da sucção, mas adormecia cerca de cinco minutos depois de começar, chorava e mostrava-se muito irritado quando era acordado para continuar. As refeições eram cada vez mais longas. Pedi conselhos às enfermeiras e à pediatra e todas me aconselharam a prosseguir: disseram-me que a amamentação é um processo que implica tempo, paciência e perseverança. Assim fiz, recordando-me dos conselhos do curso, sobre como pode ser difícil dar de mamar, mas como essa deve ser a alimentação do nosso filho. No segundo dia, antes de voltarmos para casa, procurámos orientação no espaço de aconselhamento da maternidade. Após observação de um momento de amamentação pela enfermeira, o diagnóstico foi que eu tinha leite, mas o bebé não mamava continuamente e que portanto devia ser estimulado a continuar durante a refeição. Novamente o conselho foi “persistência”. Tive alta da maternidade sem nenhuma receita de leite de substituição, para o caso de o aleitamento materno não ser bem sucedido.

Em casa, a situação manteve-se; com refeições longas e irregulares, com muito choro à mistura. As nossas noites eram conturbadas. Ao quarto dia de vida visitámos o centro de saúde e percebemos que o David tinha perdido 13% do peso à nascença. É normal um bebé perder até 10% do peso alguns dias depois do nascimento, mas, apesar da perda de 13% a médica responsável pelo acompanhamento dos recém-nascidos e pela vacinação das crianças da nossa freguesia não deu nenhum sinal de alerta, preferindo passar o caso ao pediatra assistente. Continuei com a amamentação exclusiva. Ao décimo dia de vida, visitámos o pediatra que finalmente nos disse que o David precisava de tomar um leite artificial como complemento ao materno. Percebi que o meu leite podia não ter a quantidade ou a qualidade necessárias. Ainda me custou a acreditar. Apesar da introdução do suplemento, o David acabou por ser internado ao décimo segundo dia de vida com uma desidratação.

Depois de tudo o que já pensámos sobre sentimentos de culpa, efeitos nocivos do excesso de teimosia maternal e da nossa falta de experiência, o que queria partilhar mesmo com o maior número de pessoas que possam divulgar esta ideia é que nem sempre a amamentação é possível e que, nestes casos – mais frequentes do que nos querem fazer querer nas maternidades – , há alternativas saudáveis para os nossos filhos. Claro que o leite materno é melhor, mas uma desidratação num bebé é muito grave e pode até deixar sequelas. Felizmente o David recuperou plenamente e de acordo com os exames que fez antes da alta não houve consequências para a sua saúde.

A valorização do aleitamento pelas mães biológicas remonta ao século XVIII na Europa, Canadá e nos Estados Unidos e foi motivada pela necessidade de diminuir as taxas de mortalidade infantil. Entre outras causas, esta era provocada pela incapacidade de controlar a alimentação, as doenças e os hábitos de consumo de bebidas alcoólicas das amas de leite. Nessa época, as famílias mais abastadas recorriam aos seus serviços quando as mães não podiam ou não queriam amamentar os próprios filhos. Até ao século XX, os leites de substituição tinham origem em leite de vaca ou eram bebidas de cereais adaptadas a bebés, com muitos riscos de má-nutrição ou mortalidade infantil.

Desde o final do século XIX e sobretudo nos períodos entre as duas guerras mundiais surgiram os leites de substituição para reduzir as licenças de maternidade e promover o regresso ao trabalho com a maior brevidade. A partir dos anos 60 do século XX implementou-se a prioridade do leite materno através de campanhas públicas e de legislação para garantir as condições de amamentação através do aumento do tempo de licença de trabalho das mães.

Uma ideia que guardámos do período que estivemos no hospital resultou de uma conversa com o médico que nos recebeu na Unidade de Cuidados Intensivos. Segundo ele, todos os anos recebem vários casos de desidratação provocados pelo fundamentalismo de algumas maternidades em relação ao aleitamento materno. Comentou também que depois de cinquenta anos em que os leites de substituição eram a referência, se está a cair no extremo oposto em que o leite materno parece ser a única opção.

Felizmente percebemos que os bebés podem ser alimentados com leites artificiais a tempo de não prejudicar o David. Gostava muito que todas as jovens mães fossem informadas nas maternidades de que o leite materno é a melhor, mas não a única solução e que o leite artificial é uma alternativa saudável.

A este propósito, descobri uma publicação com as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre alimentação dos bebés e das crianças. Vou ler e aplicar nos próximos tempos.

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